De acordo com o Ministério da Saúde, o mês do Aleitamento Materno no Brasil foi instituído pela Lei nº 13.435/2.017 que determina a intensificação de ações intersetoriais de conscientização e esclarecimento sobre a importância do aleitamento materno durante o mês de agosto. Para tratar de um assunto tão importante, o Labchecap convidou a médica pediatra e presidente da Sobape (Sociedade Baiana de Pediatria), Dra. Dolores Fernandez (CRM 6666).
Para a médica, a campanha deste ano visa colocar em evidência a lei, mostrando a sua abrangência e aplicabilidade: proteger a amamentação, uma responsabilidade de todos. “O tema de 2021 é um chamado a sociedade civil, organizações, empresas, serviços de saúde e afins, para participar dessa campanha que a Sociedade Brasileira de Pediatria propôs ao Ministério da Saúde de se estender para todo o mês denominando-o de agosto dourado”, elucida.
O leite materno traz benefícios para o bebê por conter tudo o que ele precisa: proteínas, carboidratos, gorduras insaturados, vitaminas e sais minerais, fatores de crescimento, fatores de proteção do intestino, endorfinas, água, anticorpos, substâncias anti-inflamatórias, células tronco e outros. “Um alimento completo. É da nossa própria espécie e é específico para cada fase inicial da vida e importante para o desenvolvimento de todas as potencialidades do ser humano. Os benefícios não são só para o bebê, mas também para a mãe: previne câncer de mama e ovário, osteoporose, doença cardiovascular”, informa a médica pediatra.
Segundo a médica, todas as crianças devem ser amamentadas de forma exclusiva até os 6 meses de vida e continuada sendo complementado com outros alimentos até 2 anos ou mais. “Antropologicamente identificamos na literatura crianças que foram amamentadas até os 7 anos. Acima dos 2 anos a quantidade de um terço das calorias é promovida pela amamentação”. O aleitamento materno deve ser defendido por todos, afinal, é uma saúde de qualidade que começa no início de vida e tem ação duradoura para o resto da vida adulta evitando doenças crônicas como obesidade, doenças do aparelho cardiovascular e osteoporose.
O grande promotor da produção do leite materno é a sucção do bebê. Quanto mais mama, maior a produção. Amamentar na primeira hora do nascimento é a melhor prática para a chegada do leite mais rápido em que se estabelece os estímulos hormonais da prolactina e oxitocina, hormônios que estão ligados diretamente com a produção (prolactina) e a descida do leite (oxitocina). Dra. Dolores ainda esclarece que, o bebê que nasce bem está ávido por esse momento, reconhecendo esse meio externo através do contato pele a pele da mãe, sentindo o seu cheiro e indo direto para o peito e sugando logo em seguida. É a hora de ouro!
“Temos que estimular essa prática nas maternidades sejam os nascidos de parto natural ou cesariano. Porém, existem outros fatores que interferem nesse sistema, por exemplo, doenças maternas como diabetes, obesidade e hipertensão podem estar envolvidos no retardo da lactação, mas nada que não possa ser revertido. E se acompanhado adequadamente o sucesso é certo. Os profissionais devem ficar atentos nesses casos para dar mais atenção no apoio a essas mães”.
Muito se fala sobre os anticorpos da covid-19 no leite materno. São casos de mães que se vacinaram e passaram esses anticorpos para o bebê, mas, como isso é possível? Por quanto tempo esse anticorpo fica ativo? De acordo com Dra. Dolores, estudos preliminares indicam que após a mãe ser vacinada foram identificados dois anticorpos específicos contra o coronavírus IgA e IgG no leite materno, produzido por mulheres que tomaram a vacina, demonstrando um efeito neutralizante.
“Esse efeito é maior quando a mãe recebe a segunda dose do imunizante. Esses dois anticorpos são proteínas (imunoglobulinas) do sistema imune: IgA que protege contra as infecções de membranas mucosas que estão presentes na boca, vias aéreas e aparelho digestivo e a IgG que é o principal anticorpo presente no sangue e age nos tecidos para combater as infecções”, informa a médica.
Dra. Dolores ressalta que ainda é preciso ser realizado mais estudos por ser um tema muito novo que envolve algumas variantes do vírus, mas até o momento é altamente benéfico, nutre o bebê e defende das doenças. Sobre quanto tempo duram os anticorpos, a pediatra também esclarece que ainda está em análise em vários estudos. “As pesquisas têm detectado anticorpos no sangue do cordão umbilical indicando passagem pela placenta e no leite materno. Aparecem duas semanas da primeira dose da vacina permanecendo por pelo menos 80 dias, tempo que durou a pesquisa. Uma abundância de anticorpos e uma escassez de RNA viral dão evidências de que as mulheres podem amamentar com segurança seus bebês”.
Todas as mulheres que se recuperaram da covid-19 tinham anticorpos reativos às subunidades S1 e S2 da proteína Spike do vírus Sars-CoV-2 e não encontram vírus no leite materno. Também se avalia que essa imunidade pode ser cruzada a exposição de outros vírus fornecendo uma ampla imunidade aos bebês que são amamentados. “A maneira como isso acontece é que as chamadas célula B que secretam anticorpos no leite materno se originam do sistema imunológico do intestino delgado materno, viajam através do sangue até as glândulas mamárias e secretam a IgA que é então transportada para o tecido mamário por uma proteína transportadora (sistema enteromamário)”, explica a pediatra.
Para concluir, a presidente da Sobape elucida que essas proteínas chamadas de componentes secretores deixam pedaços de si mesmos nos anticorpos evolvendo-os e protegendo-os de serem degradados pelas enzimas na boca e no intestino dos bebês. “O anticorpo secretor é diferente do que encontramos no sangue. Essa característica de proteção das mucosas é importante contra os vírus que tem afinidade pelas vias respiratórias como o Sars-CoV-2. Esses anticorpos secretores parecem durar mais que os do sangue”.
“A semana mundial de aleitamento que ocorre todo ano no mês de agosto mundialmente, tem um grande papel de colocar em pauta a amamentação e a sua importância como a grande estratégia que leva a reduzir a mortalidade infantil nos primeiros anos de vida e também a mortalidade da mulher promovendo a saúde do segmento obstétrico e neonatal”. Este importante dado trazido por Dra. Dolores ressalta a importância de todos protegerem a amamentação!
Segundo Dra. Dolores Fernandez, o bebê nasce com o sistema imunológico imaturo e a natureza sabiamente permite que os anticorpos maternos das diversas doenças que a mãe teve e ou imunizações que a mãe fez, possam passar tanto pela placenta através do cordão umbilical e depois continuar fazendo essa transferência pelo leite materno. Isso depende de vários fatores, tais como imunidade natural da mãe e também depende de cada doença. Finaliza a médica.