A Organização Mundial da Saúde estima que o HPV infecte 65% das mulheres no mundo na primeira relação sexual. No Brasil, a previsão é de que 75% das brasileiras sexualmente ativas entrem em contato com o HPV ao longo da vida. Um estudo publicado pelo Ministério da Saúde em 2017 apontou que a doença afeta 54,6 %, dos jovens brasileiros com idade entre 16 e 25 anos, sendo que 38,4% são de tipos de alto risco para o desenvolvimento de câncer.
Com o objetivo de esclarecer as principais dúvidas sobre o HPV, a médica infectologista Ceuci Nunes fala dos métodos de prevenção, sintomas e a relação da doença com o câncer de colo de útero.
Ascom Labchecap: Qual a relação entre o HPV e o câncer de colo de útero?
Dra Ceuci Nunes: Mais de 95% dos casos de câncer de colo do útero estão associados ao HPV. Isso não quer dizer que toda mulher que tiver contato com a infecção desenvolverá a doença, mas significa que 95% das mulheres que desenvolveram a doença em algum momento tiveram contato com os tipos oncogênicos do HPV.
Ascom Labchecap: Você poderia explicar melhor?
Dra Ceuci Nunes: Existem mais de 200 subtipos do vírus do papiloma humano no mundo. Entre eles, apenas 12 são considerados oncogêncios, ou seja: apresentam uma maior probabilidade de causar lesões mais persistentes que, quando não tratadas, podem evoluir para um câncer. O HPV 6 e o 11 são considerados não oncogênicos e são encontrados em 90% dos condilomas genitais e papilomas laríngeos. Já o HPV 16 e o 18 estão presentes em 70% dos casos de câncer do colo do útero.
Ascom Labchecap: O câncer de colo de útero é o único tipo de câncer que o HPV pode causar?
Dra Ceuci Nunes: Não. Além de estar associado a outros tipos de câncer na mulher, como de vulva e vagina, pode causar câncer de pênis. Está também associado a câncer de ânus, orofaringe (garganta) e boca. Por isso, tanto homens quanto mulheres devem adotar cuidados preventivos e conversar periodicamente com o médico.
Ascom Labchecap: Quais são os sintomas e qual a especialidade médica que a pessoa deve procurar em caso de suspeita?
Dra Ceuci Nunes: Nem sempre a pessoa infectada pelo HPV apresenta algum quadro perceptível relacionado ao vírus. Entretanto, a ausência de sintomas não impede a transmissão da infecção. Por isso é fundamental que as mulheres se consultem anualmente com o ginecologista e os homens com o urologista. A avaliação de rotina pode detectar a doença, mesmo nos casos de pessoas assintomáticas, ou seja: sem manifestação de um quadro clínico definido.
Ascom Labchecap: A quais manifestações clínicas a população deve estar atenta?
Dra Ceuci Nunes: A manifestação mais comum é o surgimento de verrugas na região genital - chamados condilomas ou popularmente cavalo de crista - e na cavidade oral. Outras manifestações são lesões pré-cancerígenas, como o NIC (Neoplasia Intraepitelial Cervical) e o câncer, principalmente de colo de útero e os demais já citados. A depender do quadro clínico apresentado, outras especialidades podem ser consultadas como o infectologista, dermatologista, otorrino ou clínico geral. O importante é que existe tratamento para a grande maioria dos casos e a detecção precoce e o tratamento de lesões pré-cancerígenas impedem a evolução para o câncer.
Ascom Labchecap: Quais as principais medidas preventivas?
Dra Ceuci Nunes: O uso do preservativo durante as relações sexuais é importante, mas é uma prevenção parcial. Isso porque a doença pode ser transmitida pelo contato físico no ato sexual, mesmo sem penetração. A vacina é a principal forma de prevenção. Pode e deve ser utilizada mesmo após o início da vida sexual e estudos mostram uma proteção mais prolongada quando utilizada mais precocemente. Por isso a indicação a partir dos nove anos.
Ascom Labchecap: Quais são os tipos de vacinas ofertadas e quem deve tomar?
Dra Ceuci Nunes: Existem dois tipos de vacina: a bivalente, que protege dos vírus de tipo 16 e 18 e tem como objetivo a prevenção de câncer de colo uterino e a quadrivalente, que além dos tipos 16 e 18, contém os tipos 6 e 11, ampliando a proteção para verrugas genitais. Elas devem ser tomadas a partir dos 9 anos, em esquemas de duas ou três doses, dependendo da vacina e da idade da pessoa que vai ser vacinada. Para as mulheres as duas estão liberadas e para os homens apenas a quadrivalente é indicada.
Ascom Labchecap: Onde as vacinas podem ser encontradas?
As vacinas são ofertadas na rede particular e na rede pública de saúde. A campanha do SUS utiliza a quadrivalente e tem como público-alvo meninas entre 9 e 14 anos, meninos entre os 11 e 14 anos e mulheres portadoras de HIV com idade entre 9 e 26 anos de idade. Na rede particular, a vacina pode ser utilizada por mulheres entre os 9 e 45 anos - tanto a bi quanto a quadrivalente - e a quadrivalente para homens com idade entre os 9 e 26. Na rede privada, a vacina pode ser aplicada fora destas faixas etárias estabelecidas, por orientação e prescrição médica.