Dentre outras datas que marcam o mês de setembro, como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, também se destaca o Dia Mundial do Alzheimer (21), realizado com o objetivo de aumentar a conscientização e desafiar o descrédito dado a demência. De acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer, no Brasil, há cerca de 1,2 milhão de casos, sendo a maior parte deles ainda sem diagnóstico.
Segundo o Ministério da Saúde, a doença foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra alemão Aloysius Alzheimer (1864-1915). Se apresenta como demência ou perda de funções cognitivas (memória, orientação, atenção e linguagem), causada pela morte de células cerebrais. Quando diagnosticada no início, é possível retardar o seu avanço e ter mais controle sobre os sintomas, garantindo melhor qualidade de vida.
Para falar mais sobre o assunto, entrevistamos a neurologista, Doutora Carla Menezes (CRM-BA 17955), que nos explica o que é Alzheimer. “É uma demência, uma doença neuropsiquiátrica composta por síndrome cognitiva. É a principal causa de demência em pessoas idosas no mundo, sendo mais frequente à medida que se envelhece. É uma doença progressiva, e infelizmente até o momento, incurável”, afirma a doutora.
Doutora Carla Menezes elucida que não existe uma causa estabelecida e conhecida para a doença, porém, existem muitos fatores de risco que estão associados. “Hipertensão, diabetes, obesidade, síndrome da apneia obstrutiva do sono, o fumo, além de um risco genético que existe em pessoas que são familiares de portadores de doença de Alzheimer”.
A médica enfatiza que embora exista um risco genético, não é uma doença hereditária, e complementa. “Não existe uma transmissão obrigatória aos descendentes, porém, estes descendentes têm um risco um pouco mais aumentado comparado a pessoas que não tem familiares com Alzheimer”.
De acordo com o Ministério da Saúde, a evolução dos sintomas da Doença de Alzheimer pode ser dividida em três fases: leve, moderada e grave. Doutora Carla esclarece que os estágios costumam avançar de maneira lenta, é o que caracteriza esse tipo de demência. “É uma doença progressiva. Não é possível interromper a evolução, mas o tratamento pode desacelerar”, relata a médica.
A Alzheimer Association International Conference (AAIC 2020) realizou o maior encontro da comunidade cientifica sobre a doença de Alzheimer (DA) e outras demências, de forma gratuita e online, devido a pandemia da covid-19.
Novos fatores de risco para DA como trauma craniano, ingestão abusiva de álcool, tabagismo e poluição ambiental foram abordados. Antigos fatores de risco também receberam destaque como a inatividade, obesidade e isolamento social.
De acordo com a AbraZ – Associação Brasileira de Alzheimer, o evento também discutiu que, a hipertensão que por diversos mecanismos lesiona o cérebro, favorece a deposição de amilóide e está intimamente relacionada com a DA. O seu tratamento ainda é uma das estratégias mais eficazes para prevenir a perda cognitiva.
Muitas vezes o esquecimento é visto como apenas uma fase normal do processo de envelhecimento. “É uma doença causada por uma síndrome cognitiva, o sintoma mais conhecido é o esquecimento, uma alteração de memória. Geralmente de memória imediata e recente, que vai se alastrando e comprometendo também as memórias de longo prazo, ou seja, as memórias mais antigas”, afirma Doutora Carla.
A médica ainda informa que outros sintomas comuns são alterações de linguagem, dificuldades na realização de tarefas, dificuldade também na orientação quanto ao tempo e espaço, além dos sintomas psiquiátricos, como transtornos de humor, principalmente a depressão, e as alterações comportamentais.
“Não é possível definir a idade, mas como é uma demência muito comum em idosos, costuma ser percebido através da identificação desses sintomas a partir dos 65 anos de idade, sendo mais comum à medida que se envelhece mais”, elucida Doutora Carla. Quando perguntado se pessoas com Alzheimer estão no grupo de risco da Covid-19, a médica explica que sim, pois geralmente quem tem a demência são os idosos.
De acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer, exames de sangue e de imagem como tomografia ou, preferencialmente, ressonância magnética do crânio, devem ser realizados para excluir a possibilidade de outras doenças.
Doutora Carla Menezes esclarece como o diagnóstico é realizado. “O diagnóstico é geralmente feito por uma avaliação clínica, composta por entrevista, exame clínico, exame cognitivo, aplicação de escalas, muitas vezes com apoio de um neuropsicólogo, que faz uma bateria neuropsicológica para confirmação”.
A médica ainda informa que o apoio diagnóstico é feito com exames de imagem, principalmente a ressonância magnética e a SPECT chamada cintilografia cerebral, além do estudo de algumas proteínas presentes no ‘líquor’ em casos suspeitos, sendo que esses marcadores são reservados para casos especiais.
“A prevenção é feita através do controle de doenças como hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo, controle da apneia do sono, além disso uma boa qualidade de vida, atividades físicas e cognitivas, ou seja, manter o cérebro ativo”, sugere Doutora Carla. Quanto ao tratamento, é explicado que é dividido entre específico, onde se utilizam fármacos direcionados para desacelerar a progressão, e o tratamento sintomático, no qual se utilizam medicamentos que se direcionam para sintomas que o paciente possa apresentar.
“Pacientes que possam ter transtornos de humor podem se beneficiar de antidepressivos, quem tem insônia e agitação podem usar medicamentos que controlem esses sintomas”, afirma Dra. Carla. A médica ressalta ainda, que além do tratamento medicamentoso, faz-se muito importante a construção de uma rede de apoio ao redor da pessoa com Alzheimer, onde estarão presentes não somente o médico, mas também fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, a família, e uma figura muito importante: o cuidador.
“O cuidador pode até ser uma pessoa da família, ou uma pessoa com formação direcionada para esse tipo de cuidado, que possa agregar em cuidados gerais com horários de medicações, lazer, higiene pessoal, além da companhia. O papel do cuidador e da família se torna essencial para o controle dos sintomas da doença, também é importante cuidar dos cuidadores, essas pessoas precisam ser amparadas para compreenderem os sintomas, a natureza da doença, e assim estarem aptos com os eventuais problemas e questões que posam surgir”, finaliza Doutora Carla Menezes.