“Diabetes é uma doença crônica muito prevalente que vem crescendo com os maus hábitos da vida moderna”. Este é o alerta inicial do médico endocrinologista Márcio Xenofonte (CRM 19042 – BA RQE 9935), em nossa importante entrevista sobre o Dia Mundial do Diabetes e as características desta patologia. “No último Atlas Mundial de Diabetes publicado pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) em 2019, foi estimado 463 milhões de pessoas no mundo entre 20 a 79 anos com a doença, o que representaria 9,3% de toda a população mundial e a perspectiva é que essa prevalência aumente para 10,9% até 2045”, informa o endocrinologista.
Doutor Márcio Xenofonte prossegue inteirando que o Brasil está em 5º lugar no ranking dos países com maior número de diabéticos, totalizando 16,8 milhões de pessoas em 2019, número que deve subir para 26 milhões até 2045. “Estima-se que metade dessas pessoas ainda não sabe que têm a doença e por isso a importância de criar um dia para conscientizar a todos do que é Diabetes, como evitar, diagnosticar e tratar. O 14 de Novembro foi escolhido por ser o dia do aniversário do descobridor da Insulina, o canadense Doutor Frederick Banting”, afirma o médico.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, o pâncreas é um órgão localizado atrás do estômago que produz alguns hormônios importantes para nosso sistema digestivo. Em condições rotineiras, quando o nível de glicose no sangue sobe, células especiais, chamadas células beta, produzem insulina. Assim, de acordo com as necessidades do organismo no momento, é possível determinar se essa glicose vai ser utilizada como combustível para as atividades do corpo ou será armazenada como reserva, em forma de gordura. Isso faz com que o nível de glicose (ou taxa de glicemia) no sangue volte ao normal.
Doutor Márcio nos esclarece a diferença entre hiperglicemia e hipoglicemia. “Hipoglicemia é quando o nível de glicose (o açúcar no sangue) cai abaixo do normal. O paciente geralmente sente sintomas iniciais de tremor, suor frio, fome e sensação de desmaio, podendo progredir para um desmaio, convulsões e até morte nos casos muito graves. Hiperglicemia é quando o nível de glicose fica alto. O problema é que a maioria das hiperglicemias são inicialmente sem sintomas e por isso só são detectadas se for medida a glicose sanguínea. Assim, Diabetes começa como uma ‘doença silenciosa’. Quando os primeiros sintomas aparecem são em geral visão turva, muita vontade de urinar, muita sede e perda de peso”, elucida o médico.
O endocrinologista Márcio Xenofonte explica ainda um questionamento muito comum entre a população: a diferença entre os tipos de diabetes. “O Diabetes tipo 1 ocorre quando o corpo produz anticorpos que destroem as células pancreáticas produtoras de insulina, e o paciente necessita desde o início da reposição da mesma. O Diabetes tipo 2 é quando o corpo ainda produz insulina, mas essa insulina não consegue agir corretamente na célula. Neste tipo, com a ajuda de medicamentos e de mudanças no estilo de vida como dieta, exercícios e parar de fumar, essa insulina volta a agir melhor e o diabetes é controlado. O terceiro Diabetes mais prevalente é o Diabetes Gestacional que ocorre por mudanças hormonais nas gestantes e pelo ganho de peso delas”.
Além disso, aponta os menos comuns. “Tipos menos comuns são o Diabetes por perda de tecido pancreático devido a cirurgias, pancreatite, tumores de pâncreas ou acidentes. Há o Diabetes por outras doenças hormonais como doença de Cushing ou Acromegalia. Diabetes causado por uso de outras medicações, como corticoides ou antipsicóticos, dentre outros tipos”. O Ministério da Saúde informa que pessoas com níveis de açúcar no sangue acima da faixa normal, mas não alto o suficiente para ser diagnosticado como tendo diabetes são conhecidas como pré-diabéticas. Se o nível de açúcar no sangue estiver acima da faixa normal, o risco de desenvolver diabetes completo é maior.
Doutor Márcio Xenofonte alerta para a falta de cuidados com a saúde. “Essa é uma grande questão se de chamar atenção sobre Diabetes, pois é uma doença que, quando mal cuidada, pode sim evoluir para inúmeras complicações graves como cegueira, amputações de membros, insuficiência renal com hemodiálise, infarto do coração e Acidente Vascular Cerebral (o AVC ou “derrame”). Tudo isso pode ser evitado se o paciente descobre o Diabetes precocemente e o trata com cuidado. Mantendo suas taxas controladas, ele pode viver sua vida inteira sem essas complicações”, afirma o médico.
O tratamento para cada tipo de diabetes é específico. “Para o tipo 1 é indispensável o uso da insulina, fazendo-se uma associação de 2 tipos de insulinas: uma lenta para agir o dia todo e outra rápida para agir nas refeições. Já o tipo 2 quase sempre consegue ser manejado inicialmente com medicações em comprimido, apesar de termos também medicações injetáveis (que não são insulinas) e que algumas vezes já iniciamos o tratamento do tipo 2 com esses injetáveis. Em todos os tipos é indispensável ter Mudanças de Estilo de Vida (MEV) que são: exercícios físicos; alimentação saudável; emagrecer; parar de fumar e reduzir álcool”, reitera o médico.
Doutor Márcio afirma que o Diabetes é uma doença que entra no grupo de risco para COVID-19, mas se tem ressalvas. “Percebe-se claramente que isso se aplica para os pacientes com mais idade e com mau controle da glicose. Os diabéticos jovens e com bom controle estão tendo riscos iguais ao da população geral”. E ainda faz uma importante pontuação. “Considera-se que o risco é independente do tipo de diabetes. Como falei anteriormente, o que diferencia o risco é estar com o diabetes mal ou bem controlado”. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia ressalta alguns cuidados com os medicamentos durante a pandemia, confira a seguir:
“Nada é completamente proibido. Claro que a pessoa poderá comer um doce uma vez ou outra, mas ela precisa saber que quando comer aquele doce precisa compensar isso de alguma forma, seja com uma dose maior de insulina ou aumentando o exercício físico para ‘queimar’ esse doce”, explica Doutor Márcio. Quantos aos cuidados com a alimentação, o médico esclarece que o diabetes tipo 1 por não produzir nenhuma insulina, termina sofrendo mais acentuadamente os efeitos da alimentação e realmente esse precisa de um controle alimentar mais rigoroso, porém a essência da alimentação é igual para ambos que é evitar os carboidratos de alto índice glicêmico (carboidratos refinados), preferindo os carboidratos complexos (integrais), diminuir o uso de frituras e gorduras saturadas e aumentar ingestão de fibras.
Para finalizar, Doutor Márcio Xenofonte nos traz uma reflexão significativa sobre como estamos tratando da nossa saúde, do nosso corpo e da nossa mente.
“O mundo tem nos conduzido para hábitos muito ruins de alimentação, sedentarismo, álcool, fumo, estresse, noites mal dormidas entre outros. Tudo isso leva a obesidade e a diabetes. Seja você uma pessoa saudável ou que já tenha algum problema de saúde, TODOS precisamos mudar esses hábitos. Tenhamos todos a consciência que as Mudanças de Estilo de Vida (MEV) são a chave para a saúde e para a longevidade”.